A escolha de novas empresas ou a formalização de novo contrato com as concessionárias atuais não é, nem de longe, garantia para um bom transporte público em Passo Fundo.
Passo Fundo tem um transporte público deficitário, oferecido em concessão por duas empresas privadas e uma pública. Os problemas de qualidade dos veículos, atrasos das linhas e desenho deficiente são bem conhecidos. De certa forma, a população foi treinada para acreditar que uma futura licitação seria um remédio para todos os males, talvez pela histórica investida dos sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda na questão da legalidade das relações entre a Prefeitura e as empresas de transporte.
Curiosamente, alguns desses partidos hoje estão no poder, lado a lado com o prefeito e sossegaram o megafone na porta dos pátios. Mesmo assim, esta necessidade popular acaba virando plataforma política, sempre planejada para que o gestor colha, em um futuro próximo, os louros da glória pela resolução dos problemas causados por um sistema onde ele mesmo faz parte, e sempre fará.
A licitação está sendo veiculada com pompa e circunstância, um hábito comum, sobretudo em fase pré-eleitoral. A novidade foi anunciada em banner vultuoso com os seguintes dizeres: “Licitação do Transporte Público. Compromisso cumprido.” O fato também repercutiu nas sessões da Câmara dos Vereadores, agora também acompanhada nos editoriais da Lócus.
Não se enganem: esse mero update legal e técnico não garante solução para o transporte coletivo em Passo Fundo. O sistema de concessões tem por vocação ser deficiente, palco para negociações absurdas sobre preços e regras draconianas, mantida por longos períodos – os casos de desistência são poucos.
A manutenção da CODEPAS nesse certame, através da reserva de mercado para a empresa pública, apenas este fato, já denuncia a falta de compromisso com a eficiência não só do transporte, mas da Administração Pública na contramão do que a população deseja: governo enxuto e eficiente.
Por fim, a licitação revela uma gestão que se encolhe onde deve ser grande (ao assumir como estratégia e compromisso a negação das grandes obras para o trânsito) e vira gigante onde deve abrir mão, ao ser berçário protetor de estatais e refúgio de ineficiência.
Em tempos de Uber, inteligência artificial e motores elétricos, serão 20 anos (prorrogáveis por mais 10) de uma população amarrada a modelos do passado, iniciados por uma breve primavera de pequenas novidades, logo seguida pela plena normalidade do serviço público. E sem ar-condicionado, já que a licitação não exige.