Quem diria que um dia eu concordaria com Alberto Goldman, uma das figuras mais esquerdistas do PSDB? Tudo porque fui passear na cidade de São Paulo. O objetivo da viagem era turístico, mas não pude deixar de avaliar, mesmo que superficialmente, a quantas anda a maior capital do país.
Não faz muito tempo, Goldman se meteu em uma longa discussão pública com o atual prefeito de São Paulo, João Doria. Em vídeo publicado em seu canal no Youtube, acusou o mandatário de esquecer a prefeitura e viajar pelo mundo sem obter resultados. Criticou o estado da limpeza, da infraestrutura e da iluminação pública:
As palavras de Goldman, e aqui deixo de lado seus posicionamentos ideológicos de lado, encontram amparo na realidade. Ainda que continue imponente e cosmopolita, não há nada de extraordinário na São Paulo de Doria.
Admito que, na condição de visitante, não posso fazer uma avaliação aprofundada da administração, até pela impossibilidade vivenciar o cotidiano da cidade. Busquei, entretanto, observar aquilo que poderia ser mais evidente aos olhos de quem apenas está de passagem. Não encontrei nada digno de nota.
O programa “Cidade Linda”, com as aparições públicas de Doria fantasiado de gari, só parece existir no nome. Caminhei pelo menos quinze quilômetros, indo da luxuosa Rua Oscar Freire até a popular Rua 25 de Março. Ao longo de todo o trajeto, a limpeza e a revitalização em larga escala não dão as caras. Vi calçadas esburacadas, lixo atirado e muitos, muitos viciados em crack.
Sim, São Paulo é muito mais do que a região da Avenida Paulista e o Centro Velho, mas é inegável que esse perímetro é o coração do município. É ali para onde vai o grosso dos turistas e deveria ser o local mais bem cuidado e vistoso.
As pichações também fazem parte da realidade paulistana. Elas estão presentes em quase todos os cantos, incluindo o Mosteiro de São Bento, cuja lateral se encontra completamente emporcalhada pelos vândalos urbanos. Ver um lugar tão importante em termos religiosos se encontrar em estado tão deplorável de conservação exterior faz com que os olhos fiquem marejados. Imagine as pilastras do Vaticano cheias de inscrições feitas de spray.
Acima de qualquer governo que entre ou que saia, São Paulo, pela sua condição de megalópole, sempre conservará a imponência. Impossível caminhar por suas vias sem sentir que se está no centro econômico do país. Mas toda essa imponência contrasta com o estado de calamidade social que se revela com desassombro. Mendigos e viciados se amontoam nas escadarias do belíssimo Teatro Municipal e da Catedral da Sé. Há pedintes por todos os lados.
Mesmo não sendo culpado pelo contexto, que inclui a recente e desastrada passagem do petista Fernando Haddad pela prefeitura, Doria precisa ser cobrado por este primeiro ano de mandato. Fica claro, até pelo depoimento dos paulistas com quem falei, que tudo se perdeu muito rápido. As conquistas iniciais de seus primeiros meses de mandato foram deixadas de lado na medida em que foi crescendo em Doria o desejo de disputar a eleição presidencial de 2018.
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Sempre disse que o maior ativo de Doria era fazer um governo exemplar em São Paulo. Ele ainda tem três anos para mostrar serviço. Precisará, entretanto, deixar a vaidade política de lado, retomar o foco e buscar os resultados efetivos que a população que o elegeu anseia. O marketing é importante para divulgara ações que são tomadas, mas não pode ser converter em um fim em si mesmo.
A situação ajuda a impactar na aprovação do mandatário. Nas últimas semanas, os mais diversos instituto de pesquisa mostraram uma queda acentuada nos índices de ótimo e bom de sua Administração. Para reverter essa mau momento de seu governo, Doria terá de tirar a fantasia de gari e vestir de novo a de prefeito.