O resultado das votações que estão se dando nas sessões extraordinárias da Assembleia Legislativa gaúcha marcam uma tomada de decisão em relação aos caminhos que o Rio Grande do Sul pode trilhar a partir de agora. Ou se opta pela continuidade do seu saneamento financeiro, com a possibilidade de criar as condições de desenvolvimento sustentável em médio e longo prazo, ou se mergulha de vez na insolvência, na ingovernabilidade e no caos.
Desde o início de seu mandado, o governador José Ivo Sartori, com erros e acertos, tem tentado implementar uma agenda de austeridade para o Estado. Entre as medidas já aprovadas estão uma lei de responsabilidade fiscal estadual e uma previdência complementar para os servidores públicos. Em 2016, Sartori conseguiu o refinanciamento da dívida com a União, alterando o indexador, prorrogando o prazo de pagamento até 2048 e criando uma espécie de prestação declinante, com parcelas que vão se reduzindo na medida em que o tempo passa.
No campo administrativo, foram feitos cortes em cargos e extinções de companhias e organismos estatais ultrapassados ou ineficientes. Por meio do pacote de reestruturação do Estado, foram eliminadas a Fundação Piratini, a Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec), a Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH), a Fundação de Economia e Estatística (FEE), a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB), a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan), a Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH) e a Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas (Corag). Com a medida, é prevista uma economia anual de R$ 100 milhões.
Tudo isso, entretanto, não resolve o problema do déficit orçamentário do Rio Grande do Sul. Essa questão é mais profunda e se prolongará por muitos anos, sendo necessária uma política de austeridade que transcenda a atual Administração, independentemente de ela conseguir ou não a reeleição em 2018.
Para começar, entretanto, será fundamental a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal, um acordo firmado com a União cujo objetivo é fornecer os instrumentos de curto prazo que são necessários para o ajuste das contas públicas.
Caso seja aprovado, o Regime de Recuperação Fiscal viabilizará que o Estado tome novos empréstimos, fazer financiamentos e adiar por três anos – com possibilidade de prorrogação por mais três – o pagamento das parcelas da dívida com a União. Além de poder voltar a investir, resultará também em alívio financeiro na ordem de R$ 10 bilhões para o caixa do Governo.
O legislativo gaúcho tem papel fundamental na consolidação dessa retomada econômica. Passa pelos deputados a aprovação do Acordo. Além da adesão ao Regime de Recuperação, eles também vão deliberar sobre a retirada da Constituição Estadual dos dispositivos que obrigam a realização de plebiscito para a privatização de três estatais: a Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul (Sulgás), a Companhia Rio-Grandense de Mineração (CRM) e a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). Essa modificação na lei é uma contrapartida exigida pelo governo federal para aceitar o acordo com o Estado.
Se o governo Sartori não obtiver sucesso em aprovar esses projetos, a situação do Rio Grande do Sul será de calamidade. Os parcelamentos da folha de pagamentos se tornarão ainda mais arrastados, isso se não forem suspensos por falta de recursos, e o Estado terá de voltar a quitar as parcelas da dívida, incluindo as atuais. Para 2018 é esperado um déficit de R$ 6 bilhões. Nas condições atuais, não há forma alternativa para lidar com a situação.
A oposição (a esquerda gaúcha), formada por partidos como PT, PSOL e PCdoB, está inflexível no sentido de inviabilizar as votações convocadas. São advogados do quanto pior, melhor. Enquanto o governo Sartori propõe uma alternativa difícil, porém concreta, o que gente como Tarcísio Zimmerman, Manuela D’ávila, Pedro Ruas, dentre outros tantos parlamentares e líderes políticos do mesmo campo, têm a apresentar de viável? Resposta: nada.
Manifestação de grupos de esquerda em frente ao Palácio Piratini
Só os gaúchos têm a perder se o Regime de Recuperação não for aprovado. A população verá os serviços públicos se tornarem ainda mais ineficientes e o funcionalismo não verá mais a cor do seu salário. O Estado não quebra, mas, uma vez insolvente, piora continuamente a vida das pessoas. Não haverá mais dinheiro para a merenda escolar, bem como gasolina para as viaturas policiais. E não, não se trata de retórica terrorista para ver um projeto aprovado. Os números das contas estaduais mostram isso.
A esquerda gaúcha, entretanto, faz pouco caso. Mobilizam suas hostes incrustadas nos poderes, nos sindicatos e nos movimentos sociais para pressionar a Assembleia e intimidar aqueles que defendem o pacote de austeridade. Apostam na demagogia obscurantista para fazer valer seu sectarismo dirigista, reacionário e atrasado. A eventual vitória política deles será também o triunfo do caos.
Se você gostou deste artigo ou de outros de nossos materiais, clique no link abaixo e apoie o Lócus fazendo uma assinatura anual. Com ela você terá acesso a conteúdos exclusivos.
Vídeos postados no Youtube com conteúdo protagonizado por Onyx Lorenzoni no canal da Band RS têm desempenho superior aos demais
A Rede Bandeirantes realizou na segunda, dia 8 de agosto, o primeiro debate com os candidatos ao governo gaúcho nas eleições de 2022. Participaram oito dos dez concorrentes: Vieira da Cunha (PDT), Edegar Pretto (PT), Eduardo Leite (PSDB), Luis Carlos Heinze (PP), Onyx Lorenzoni (PL), Ricardo Jobim (Novo), Roberto Argenta (PSC) e Vicente Bogo (PSB).
O debate teve uma duração de duas horas e você pode conferir na íntegra no link abaixo:
Costume tradicional nos podcasts, os “cortes” ganharam vida também nos canais das TVs na internet. Eles são momentos especiais do conteúdo escolhidos pelos editores e repostados no Youtube. Como estes pequenos vídeos são protagonizados por um candidato em especial ou representam tópico específico – muitas vezes apoiado pelo texto escolhido para a miniatura – acabam virando um termômetro da popularidade dos candidatos nas redes.
A Band postou cerca de 30 cortes após o evento e a diferença de visualizações entre eles é gritante, com grande predomínio dos vídeos favoráveis a Bolsonaro. Foram 24 destaques do debate e 8 considerações finais. O vídeo mais visto até o momento da edição deste texto foi o “Edegar Pretto (PT) questiona Onyx Lorenzoni (PL) sobre rompimento com Eduardo Leite”, com 706 mil visualizações, 28 mil curtidas e 3.865 comentários. Apesar de ser o “momento” do candidato petista perguntar ao bolsonarista, a “miniatura” que divulga o corte mostra Onyx com a frase “Ou tá com Lula ou tá com Bolsonaro”.
Os cortes do segundo ao quarto lugar também são identificados com Lorenzoni, obtendo 67 mil, 21 mil e 16 mil visualizações. Até nos vídeos de “considerações finais” o candidato do PL ficou na frente: 3800 contra 511 de Eduardo Leite.
Onyx líder nas miniaturas
O arranjo descompassado entre protagonista do corte (ou quem pergunta para o concorrente) e a miniatura que divulga o vídeo – escolhas dos editores da Band – acabou por favorecer o candidato do PL. Foram 6 “figurinhas” para Onyx, 4 para Jobim e Vieira, 3 para Argenta, 2 para Bogo, Leite e Heinze e apenas uma para Pretto. Os vídeos, por sua vez, são equânimes: cada candidato perguntou 3 vezes para um concorrente. O petista Pretto fez perguntas para Vieira, Heinze e Lorenzoni, mas só virou figurinha quando indagado por Bogo.
Em tempos de algoritmos com critérios que só os desenvolvedores das bigtechs conhecem, esta forma de publicação pode distorcer um pouco a percepção da realidade e desempenho de candidatos. De qualquer forma, é pouco para explicar o enorme sucesso de Onyx em visualizações. O conteúdo do candidato, provavelmente, caiu na rede bolsonarista nacional, que admira o confronto contra o PT, especialmente pelo mote “Está com Lula ou Bolsonaro”. Existe significativo número de comentários nos vídeos de pessoas que dizem não serem do Rio Grande do Sul, mas apoiam o que foi dito.
Por fim, surpreende o desempenho pífio de Eduardo Leite com a audiência. Dos seus três pronunciamentos publicados, um serviu de escada para Onyx faturar 67 mil visualizações (O Senhor Priorizou um Projeto de Poder) e “traço” com os temas geração de emprego e investimento em segurança.
A eleição nem começou, mas a Band deu o tom. Os cortes serão uma ferramenta importante na divulgação dos canais e os candidatos devem correr na frente para fabricar os próprios, com o mesmo conteúdo mas com o tom que lhes favoreçam. E o eleitor (que vota no RS) que decida pelo melhor.
Mateus Wesp quer a marca do “deputado que trouxe mais de meio bilhão” para a cidade, incluindo até dinheiro federal do aeroporto
Passo Fundo recebeu um impresso do deputado estadual Mateus Wesp na última semana. De título “Prestação de Contas (2019-2022) – O Trabalho do Deputado que Trouxe Mais de Meio Bilhão de Reais para Passo Fundo e Região”, o panfleto amarelinho de 10 páginas apareceu na caixa de correio de muita gente na cidade.
Wesp e seu panfleto amarelo: uma lista de conquistas heróicas.
A distribuição maciça do material coincidiu com a visita a Passo Fundo do ex-governador Eduardo Leite (sexta, 22 de julho) e com uma festa de aniversário para deputado em CTG, na presença de tucanos estaduais.
A Lócus teve acesso ao livrinho, o qual lista realizações do deputado, envios de verbas e mostra como o político tem (ou teria) ótimas relações com o Executivo, que dá atenção para seus pedidos especiais. Tudo acompanhado do bordão “Sem deputado Wesp / Com deputado Wesp” a cada item.
Depois de elencar milhões aqui e ali em emendas e programas governamentais para a saúde da região, a página 2 destaca algo curioso: “a pedido do deputado”, escolas de Passo Fundo, Carazinho, Getúlio Vargas e Soledade foram inseridas no “Programa Avançar na Educação”, escolhidas entre outras 54 para se tornarem “Escola Modelo”.
Acima: dinâmica e cidades das escolas escolhidas para integrarem o programa “Escola Padrão”, segundo documentação do Governo RS.
É de se espantar que o Executivo, com equipe técnica na área da educação, economia e tantos outros departamentos da máquina pública na mão receba de um deputado seleção de escolas para programas. Mais estranho ainda é consultar a documentação do Programa Avançar Na Educação e constatar que o programa Escola Padrão selecionou 52 escolas a partir do Índice de Infraestrutura das Escolas, calculado pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE/SPGG), garantindo pelo menos uma escola por Coordenadoria Regional e preferencialmente sem projeto ou obra em execução e mais 3 indígenas e uma quilombola.
Responsável por tudo
O deputado segue dando a entender que tudo de bom é causado por seu mandato. A fazenda da Brigada Militar arrendada? Obra de Mateus Wesp. A Cadeia Pública? Obra de Mateus Wesp. Estradas? Turismo? Tudo era mato antes de 2019. Paulo Maluf está orgulhoso do deputado gaúcho, esteja onde estiver.
Rei do marketing: sem o deputado Wesp, pessoas morrem nas estradas. Graças a ele, tudo melhorou ou vai melhorar.
Aeroporto de Passo Fundo e Impostos
Wesp fez a obra sair do papel e desembarcou com o governador Eduardo Leite por aqui para dar a ordem. No imposto de fronteira, por ter votado sim ao fim da cobrança (assunto polêmico, já que outras forças políticas declaram que não foi bem assim) – o deputado também se considera responsável por tal feito. Ele também significa “contas em dia” e outras diversas benesses.
Wesp e Leite: nunca antes na história deste Estado.
Meio bilhão
O panfleto acaba com uma lista de valores precedida pelas afirmações “Nunca um deputado estadual e um governador trouxeram tantos investimentos para Passo Fundo e região. Total de investimentos: mais de meio bilhão de Reais”. No tabelão de emendas e recursos, os destaques somam R$ 551 milhões. Entre eles, o dinheiro federal para a reforma do aeroporto Lauro Kortz – a cereja do bolo neste conjunto de exageros, promoção pessoal e um festival de dados sem referência. Ainda bem que o o material deixa uma última mensagem: pago com recurso próprio. Imaginem isso tudo financiado pelo dinheiro dos pagadores de impostos? Aí seria demais.
Neste ano eleitoral, avançam os gastos com diárias na Assembleia e o líder até o momento é o deputado de Passo Fundo
O deputado Mateus Wesp (PSDB) já recebeu mais de R$ 27 mil em diárias até o momento na Assembleia Legislativa. Segundo a Transparência do Governo RS, os valores são referentes a viagens entre janeiro e junho deste ano, com diárias lançadas no “futuro” para duas empreitadas no RS, provável erro no sistema. O valor deixa o deputado na liderança dos gastos, seguido por Elton Weber (PSB) com R$ 26 mil e Antônio Valdeci Oliveira (PT) com R$ R$ 25 mil.
Todo o Legislativo gastou R$ 1,5 milhão em 3819,5 diárias até o momento.
A metade dos gastos de Wesp ficou por conta da viagem com destino aos Estados Unidos em março, para acompanhar Eduardo Leite. O deputado visitou Nova Iorque, Austin e Washington. A presença de alguém do Legislativo em comitiva de “exibição de potencialidades e conhecimento de novas tecnologias” é, no mínimo, discutível. As 7 diárias ficaram em R$ 14.358,68.
Em 2021, Wesp consumiu R$ 17 mil em diárias (29), contra R$ 12 mil em 2020 (20) e R$ 24,6 mil em 2019 (30,5). O deputado encerrará o último ano com o maior gasto durante o mandato e talvez como campeão entre todos os políticos da casa.
Wesp está na liderança
O deputado por Passo Fundo Mateus Wesp já apareceu em diversos levantamentos da Lócus sobre gastos com diárias e gasolina, sempre ocupando boas posições (para o deputado, nem tanto para o contribuinte). Você pode conferir alguns destaques aqui, aqui e aqui.
Diárias consumidas até o momento e registradas no Portal da Transparência, para todo o Poder Legislativo. Acesse aqui o portal. Em 2021 INTEIRO, os gastos foram de R$ 1,91 milhão para 4566 diárias.
“Ah, mas eu trago recursos”
Muitos dos políticos confrontados com o alto gasto em viagens respondem que “estão trabalhando” e “trazendo recursos”, termo para fazer o que tem que ser feito e retorno dos impostos já pagos pelo contribuinte. A diária acaba virando uma espécie de comissão pelos serviços prestados que é adicionada ao já gordo salário. Outra coisa ainda mais séria e já falada por aqui: e quando o político tira diária e gasolina para viajar e gasta metade do tempo em evento partidário na cidade destino? Isso não tem cabimento, mas acontece muito.
É bom ficar de olho em todos, de Porto Alegre e de Passo Fundo.