Subestimar a capacidade do adversário é o caminho mais certo para a derrota. Em 2005, depois do “Mensalão”, a oposição ao PT achou que seria bom negócio deixar Lula na presidência. Alvejado pelo escândalo, ele sangraria até a eleição, quando seria facilmente derrotado por qualquer outro candidato. O resultado foi o inverso: Lula se consagrou, humilhando o PSDB no segundo turno. A partir daquele momento, consolidou a imagem de mito e elegeu sua sucessora duas vezes.
A direita brasileira, formada em boa medida por liberais e conservadores que compensam a falta de prudência com o excesso de bile, comete o mesmo erro dos tucanos. Imagina que Lula, por ter sido condenado e ter uma penca de processos nas costas, está acabado do ponto de vista político. Ledo engano. Todas as pesquisas demonstram que ele possui alto percentual de intenção de voto. Lidera em todos os cenários de primeiro e segundo turno.
Alguém dirá que as pesquisas mentem. Todas? Mas se elas mentem sobre Lula, porque estariam certas sobre Jair Bolsonaro? Os números de ambos vêm dos mesmos institutos.
Não adianta separar os dados da realidade que nos interessam. É preciso aceitar o fato de que Lula continua conservando sua capacidade eleitoral. Ela é fruto do recall de seu governo, que é bem visto e bem lembrado entre as camadas populares, principalmente no norte e no nordeste do país.
Também não adianta olhar para o entorno e tomar ele como o conjunto da realidade. Quem lê esse artigo provavelmente reside em um ambiente oposicionista ao PT. Se perguntar ao sujeito que está ao seu lado se ele é favor da prisão de Lula, é bem provável que você ouça “sim”. Mas talvez ouvisse “não” se morasse em Belágua, no Maranhão. A bolha onde vivemos não representa um país continental como o Brasil.
O brasileiro médio, que dispõe de pouca informação, atribui a Lula a bonança econômica que perdurou entre 2005 e 2009. Ele não sabe e nem dá a mínima para quem era o presidente do Banco Central na época, muito menos se, no passado, Lula rejeitava as ações que viabilizaram os resultados positivos que acabou colhendo. Para o brasileiro médio, o que importa é que naquele período havia emprego, fartura, consumo e crédito fácil. As pessoas trabalhavam, compravam carros e se divertiam. A recessão que veio depois, mesmo que resultante do populismo praticado anteriormente, não foi associada a Lula, ainda que tudo tenha se dado em pleno governo petista.
Do ponto de vista moral e ético, a Lava Jato tratou de equalizar os desiguais. Para a sociedade, todo o político não presta, e aqueles que entram na política o fazem com objetivos escusos. Sendo assim, Lula não seria diferente de ninguém, e não haveria razão para trocá-lo por outro. Tendo um monte de candidatos picaretas, o único critério de desempate seria o resultado das ações de governo. E é ai que reside a força do ex-presidente.
Ainda que tenha sofrido inúmeras derrotas na Justiça, e sofrerá outras muitas nos próximos processos que serão julgados, o fato é que Lula ainda não foi derrotado politicamente. Sua oposição, seja ela de centro-esquerda ou de direita, jamais conseguiu construir um discurso alternativo ao dele.
Devido à condenação pelo TRF-4, é difícil que o ex-presidente possa concorrer em 2018. Isso, entretanto, não anula o fato de que, se estivesse em condições, seria o amplo favorito do pleito. O Brasil é um país triste. Precisa que juízes apliquem a lei para que um sujeito como esse não se sagre vencedor da eleição presidencial.
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