Internacionais
Suprema Corte dos EUA: entenda o que está em jogo
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6 anos atráson
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Hugo SilverAtribui-se a John Adams a descrição da República como “um governo de leis, não de homens”. James Madison afirmou que “em um governo republicano, o poder legislativo naturalmente predomina”[1]. Para os Pais Fundadores, o Congresso era a mais importante entre as três Casas do Poder. Já o Judiciário, pensava Alexander Hamilton, seria politicamente inofensivo, o menos poderoso entre os três poderes. Hamilton dizia que o Executivo possui as armas, o Legislativo a carteira, mas o Judiciário “não possui força nem vontade próprias, somente o juízo”[2]. A Suprema Corte, na visão dos Pais, operaria estritamente dentro dos parâmetros da Constituição, sendo estes delineados pelos representantes do Povo no Congresso.
A República dos EUA foi concebida como um sistema de governo federalista, com difusão de poderes e mecanismos de freios e contrapesos, regidos por uma Constituição Federal propositalmente pequena que defere autonomia legislativa aos Estados. Madison afirmou que “o governo federal possui poderes legislativos em uma esfera definida e limitada, além da qual [o governo] não pode estender sua jurisdição”[3]. Da mesma forma, a 10ª Emenda da Constituição determina que todos os poderes não delegados ao governo federal são reservados aos Estados[4].
Entretanto, os Federalistas pareciam não prever que, ao longo de seus 219 anos, a Suprema Corte assumiria maior relevância do que a idealizada por eles. De fato, nos últimos 50 anos, 9 juízes no Supremo, não eleitos, têm causado mais impacto na sociedade americana do que 535 representantes eleitos no Congresso.
Originalistas x Darwinistas Judiciais
É surreal imaginar que os legisladores da Constituição Americana, há 231 anos atrás, elencariam o aborto e o casamento gay na Carta de Direitos, ao lado da liberdade de expressão, liberdade de imprensa e liberdade religiosa. Para o bem ou para o mal, é fato que a Constituição Federal nada diz sobre estes temas. Entretanto, Roe vs. Wade e Obergefell vs. Hodges (que, respectivamente, legalizaram o aborto e o casamento gay em todo o território nacional) são dois dos acórdãos do Supremo que, na prática, criaram legislação federal para questões sociais outrora legisladas no âmbito estatal.
Para entendermos como se deu este processo de elevação do Poder Judiciário, é preciso penetrar, brevemente, no complexo microcosmo das divergências no âmbito interpretativo do direito anglo-saxão. Originalistas (ou textualistas) entendem que a Constituição deve ser interpretada de forma literal e objetiva, de acordo às intenções originais do legislador. Não-originalistas (ou “pragmatistas judiciais”) entendem que a Constituição é “um documento vivo”[5] que evolui e se adapta a novas circunstâncias. A teoria “darwinista” da interpretação jurídica determina que a Lei deve ser interpretada à luz das mudanças políticas, culturais e sociais ocorridas ao longo dos anos, sem a necessidade de ser modificada.
Desde a década de 1930, um número crescente de juízes americanos tem adotado uma interpretação mais progressista e menos textual da Constituição. A flexibilidade na aplicação das leis, embasada em critérios subjetivos de interpretação, concede aos magistrados o poder de legislar – prerrogativa exclusiva do Congresso. Independentemente do resultado produzido, benéfico ou maléfico, tal processo abre um perigoso precedente em que leis, outrora rejeitadas nas urnas ou no Legislativo, sejam instauradas através do Judiciário.
O que estava em jogo em 2016
A Suprema Corte dos EUA é composta por nove juízes – atualmente cinco conservadores e quatro progressistas. Diante do papel político assumido pelas cortes, republicanos e democratas viram na última eleição presidencial uma oportunidade única: alterar o equilíbrio de poder no Judiciário pelas próximas três décadas. O vencedor nomearia um substituto para o juiz conservador Antonin Scalia (falecido em fevereiro de 2016), além de possivelmente outras duas ou três substituições a juízes em idade já avançada – entre eles o conservador Anthony Kennedy (82) e os progressistas Ruth Ginsburg (85) e Stephen Breyer (80).
Ao tomar posse da Presidência da República, um dos primeiros atos de Donald Trump foi indicar o originalista Neil Gorsuch para a cadeira de Scalia. No final do último mês de junho, Anthony Kennedy anunciou sua aposentaria, viabilizando, assim, a segunda nomeação de Trump à Suprema Corte. O indicado foi o juiz, também originalista, Brett Kavanaugh.
Para entendermos o real impacto de uma segunda indicação de Trump ao Supremo Tribunal nos dias atuais, basta lembrar que Ronald Reagan nomeou três juízes à Suprema Corte em oito anos de governo (dois mandatos), George H. Bush nomeou dois juízes em quatro anos, Bill Clinton nomeou dois juízes em oito anos, George W. Bush nomeou dois juízes em oito anos e Obama nomeou dois juízes em oito anos. Trump, que já indicou dois juízes ao Supremo em apenas 18 meses de governo, ainda conta com mais de meio mandato pela frente (2.5 anos), além de um possível segundo mandato (4 anos), caso seja reeleito.
O impacto da aposentadoria de Kennedy
Em 31 anos como magistrado do Supremo, Anthony Kennedy alinhou-se aos seus companheiros conservadores em vários casos ouvidos pela Corte. Recentemente, o juiz votou com a maioria que decidiu que um confeiteiro cristão, do Colorado, não deveria ser obrigado a preparar um bolo de casamento a um casal gay. Igualmente, Kennedy votou a favor do Decreto Presidencial que proíbe a entrada de cidadãos de cinco países muçulmanos nos EUA, e deu voto decisivo para o fim das contribuições sindicais obrigatórias. Entretanto, este octogenário, indicado por Reagan em 1987, ganhou o apreço dos democratas ao favorecer pautas progressistas como o casamento gay, o aborto e a ação afirmativa.
Por ser o detentor do “swing vote”, a aposentadoria de Kennedy representa uma grande perda para democratas e progressistas em geral. A surpresa do anúncio, feito há poucos meses de uma eleição legislativa, causou alvoroço na esquerda americana. Os democratas sonhavam em reconquistar a maioria do Senado em novembro para, entre outras coisas, obstruir a confirmação de um segundo juiz “ultra-conservador”. Já para os conservadores, que possuem maioria no Senado, o anúncio não poderia ter sido feito em melhor hora.
Trapalhada nuclear
Nos EUA, todos os candidatos ao Judiciário – em todas as instâncias federais –, são indicados pelo Presidente da República e, posteriormente, confirmados pelo Senado. Até recentemente, a confirmação de uma indicação dependia de pelo menos 60 votos entre os 100 senadores – um sistema que visava proporcionar uma maior cooperação entre os dois partidos. Em 2013, chefiados pelo então líder da Maioria, Harry Reed (Nevada), os democratas optaram pela chamada “opção nuclear”, um procedimento parlamentar que altera o regimento do Senado e elimina o requisito da super-maioria para a confirmação de nomeações. Reed foi alertado pelo então líder da minoria, Mitch McConnell, que os democratas se arrependeriam desta decisão em um futuro próximo. No ano seguinte (2014), os democratas perderiam a maioria no Senado e agora, de acordo às atuais regras, a confirmação de Kavanaugh só depende de uma maioria simples (50 votos +1). A profecia de McConnell nunca esteve tão próxima de se realizar.
Quem é Brett Kavanaugh
Nascido e criado em Washington, DC, Brett Michael Kavanaugh é bem relacionado politicamente. Formado em Direito pela Universidade de Yale, Kavanaugh trabalhou como Chefe de Gabinete de George W. Bush. Posteriormente, foi indicado pelo ex-presidente ao importante Tribunal Federal de Apelações em Washington, cujas opiniões são frequentemente lidas pela Suprema Corte e servem como base para muitas decisões lá feitas. Sua confirmação ao Tribunal de Apelações ficou suspensa no Senado por 3 longos anos, por obstrução dos senadores democratas. O motivo: Kavanaugh participou das investigações que levaram ao impeachment do então presidente Bill Clinton na Casa dos Representantes.
Kavanaugh é um juiz jovem, atualmente com 53 anos de idade – o que, em tese, garantirá sua presença no Supremo pelas próximas três décadas. Em 2011, Kavanaugh votou contra o banimento de rifles semiautomáticos em Washington, baseando-se nas proteções constitucionais da Segunda Emenda.[6] Em 2015, favoreceu a liberdade religiosa, votando contra a cobertura obrigatória de contraceptivos nos seguros médicos fornecidos por instituições católicas.[7] Em 2017, votou contra a soltura de uma estrangeira menor de idade, em situação ilegal no país, para ela que pudesse interromper sua gravidez em uma clínica de aborto.[8] Em diferentes ocasiões, Kavanaugh afirmou a Separação de Poderes, criticando o modo como a Administração Obama excedeu o escopo de autoridade do Executivo, na prática legislando por meio de agências reguladores como a EPA (Agência de Proteção Ambiental)[9] e o FCC (Comissão Federal de Comunicações).[10]
Até mesmo desafetos republicanos de Donald Trump, como George W. Bush e John McCain, elogiaram a escolha do Presidente. O fato de Kavanaugh ser aceito pelo establishment republicano irá tornar sua confirmação relativamente fácil, o que não equivale a dizer que o juiz não terá seus desafios. A partir de agora, todas as suas decisões serão postas sob a lupa – não somente as tomadas no exercício de seu magistrado, mas também suas decisões pessoais. Não obstante, a despeito do jogo político no Distrito de Columbia, se a conduta pessoal de Kavanaugh for tão impecável quanto seu currículo, pouco poderá ser feito para impedir sua confirmação.
Conclusão
Os Pais Fundadores ancoraram a República americana na estabilidade de suas Leis. O ativismo judicial – que permite ao magistrado interpretar e aplicar a Lei de acordo à sua própria cosmovisão – seria uma prática totalmente inaceitável aos Fundadores. A maior evidência disso é o complexo processo de modificação constitucional por eles arquitetado: ao longo dois séculos, mais de 10 mil modificações (ou emendas) já foram propostas ao texto constitucional e somente 27 delas foram aprovadas. Consequentemente, a Constituição dos EUA não sofreu alterações significantes desde o final da Guerra Civil (1865).
Em 12 anos de magistrado, mais de 300 decisões judiciais e diversos artigos legais, Brett Kavanaugh estabeleceu o respeitado histórico textualista que viabilizou sua indicação à Alta Corte. Apesar de todo o balburdio político, iniciado antes mesmo de o substituto de Kennedy ser anunciado, os democratas nada deveriam temer com sua indicação. Podemos citar, como exemplo, uma de suas decisões mais controversas, criticada ferozmente pelos republicanos em 2011: no litígio que questionava a constitucionalidade da “responsabilidade individual” – um dos componentes do sistema de seguro de saúde federal, conhecido como Obamacare – Kavanaugh votou a favor de sua constitucionalidade por entender que se tratava de um simples imposto e, portanto, legal.[11] Sua interpretação foi posteriormente usada pelo chefe do Supremo, o juiz John Roberts, que, baseado neste princípio, deu seu voto de minerva pela constitucionalidade do Obamacare[12] – principal legado do ex-presidente democrata, Barack Obama.
Por conta desta decisão, Kavanaugh ainda é criticado por alguns republicanos que alegam que o juiz não é “suficientemente conservador” para a Suprema Corte. A despeito das diferentes opiniões legais acerca de seu voto, o episódio demonstra claramente que Kavanaugh não é agente político e não toma decisões de viés ideológico. A segurança institucional do Jurídico depende não da perfeição de seus juízes – seres humanos como todos nós –, mas de sua integridade na forma do compromisso exclusivo com a Lei. E, a julgar pelo que demonstrou até o momento, podemos dizer que Brett Kavanaugh é o sonho dos Pais Fundadores para a Suprema Corte dos EUA.
Notas
[1] O Federalista, Artigo 51.
[2] O Federalista, Artigo 78.
[3] James Madison em seu discurso “On the Expediency of Adopting the Federal Constitution”, junho de 1788.
[4] Desde que não sejam proibidos pela Constituição Federal.
[5] Conceito desenvolvido pelo cientista político Howard Lee McBain em seu livro “The Living Constitution” (1927) – conforme Larry Solum, Professor de Direito da Universidade de Georgetown, em seu artigo “Legal Theory Lexicon: Living Constitutionalism”, 14 de maio de 2017.
[6] Heller vs. District of Columbia.
[7] Priests for Life vs. HHS.
[8] Garza vs. Hargan.
[9] Coalition for Responsible Regulation vs. EPA (2012).
[10] United States Telecom vs. FCC (2017).
[11] O mandato individual obriga todo cidadão americano a comprar seguro de saúde ou pagar uma multa. O debate, em Seven-Sky vs. Holder, era se a “responsabilidade individual” era uma penalidade, no intuito de coagir o indivíduo a comprar um produto (o que grupos conservadores viam como uma prática inconstitucional) ou se era um simples imposto (a interpretação que prevaleceu). Ironicamente, a Administração Obama havia defendido sua controversa legislação perante a opinião pública alegando, justamente, que a lei não se tratava de um novo imposto.
[12] National Federation of Independent Business vs. Sebelius.
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Internacionais
A jornada da Balenciaga, marca que vai da defesa do aborto ao abuso infantil
Publicado
2 anos atráson
1 de dezembro de 2022Último ensaio da marca de luxo colocou crianças em imagens contendo produtos adultos e referências a algo que faria nosso título ser banido das redes sociais
A Balenciaga é uma daquelas marcas de luxo que vendem (preço no Brasil) jaquetas por R$ 34 mil e tênis de R$ 10 mil. Volta e meia, a empresa choca o público desse mercado com coleções exóticas que remetem a sacos de lixo ou produtos usados.
Com sede na França, a Balenciaga tem origem espanhola e é uma das principais marcas de luxo do grupo Kering, controlador de marcas como Gucci, Saint Laurent, Bottega Veneta, Alexander McQueen e outras. Com 42 mil empregados, o Kering teve um lucro de 17,6 bilhões de Euros em 2021.
Balenciaga e o abuso infantil
Ferramentas de promoção da coleção 2022/2023 da Balenciaga, duas campanhas publicitárias lançadas no dia 16 de novembro chamaram a atenção. A primeira, chamada “Gift Shop”, usa imagens de crianças portando bolsas de ursinhos paramentados com acessórios do mundo BDSM e até uma faixa plástica similar às usadas em cenas de crime para isolamento aparece no cenário com o nome Baalenciaga (usando dois As), apontado por usuários na internet como referência a BAAL, demônio antigo que (adivinhem!) sacrificava crianças.
A segunda, ambientada em um ambiente de escritório de Nova Iorque, tem fotos que deixaram transparecer papéis com cópia de processo da justiça americana sobre pedofilia e o livro Fire From The Sun, de Michael Borremans, conhecido por mostrar gravuras de crianças nuas.
Site da Balenciaga com uma das fotos do ensaio Gift Collection, do fotógrafo Gabriele Galimberti.
Detalhe de outra imagem: criança deitada próxima a taças de bebida e acessórios da marca. Atrás, o ursinho sadomasoquista.
Depois do escândalo, o fotógrafo responsável pelo ensaio com os ursinhos declarou publicamente que estava “apenas tirando fotos” de um cenário montado por outras pessoas. Já a própria Balenciaga emitiu nota pedindo desculpas pelo ensaio, que as bolsas em formato de ursinho não deveriam estar no cenário com crianças e que removeu as peças de seus canais, além de tomar medidas judiciais milionárias contra os responsáveis pelo segundo. “Nós condenamos com veemência o abuso infantil de qualquer forma e defendemos a segurança das crianças e seu bem-estar” complementa a nota.
Parte do “notão” postado no Instagram em 28 de novembro sobre os ensaios com abuso infantil e referências à pedofilia…
e a nota de apoio ao aborto para as funcionárias americanas em 28 de junho. Seis meses de diferença e a repetição das palavras.
the brand "Balenciaga" just did a uh….. interesting… photoshoot for their new products recently which included a very purposely poorly hidden court document about 'virtual child porn'
normal stuff pic.twitter.com/zjMN5WhZ0s
— shoe (@shoe0nhead) November 21, 2022
Tweet do youtuber @shoe0nhead sobre o escândalo e suas milhares de curtidas. É só o começo.
Vinte e duas semanas antes, a Balenciaga publicou no Instagram uma forte defesa do aborto, chamado de direito humano da escolha, garantindo que suas funcionárias americanas terão despesas com procedimentos abortivos cobertas pela empresa. “Pela saúde e bem-estar da comunidade Balenciaga neste momento de incerteza”, eles disseram. A nota foi provocada pelas decisões da Suprema Corte americana à época (Revogação da Roe vs Wade).
O resultado
Além da atenção dada pela imprensa internacional, a marca vê celebridades tentando de alguma forma desvilcular a imagem após o escândalo. A mais famosa delas é Kim Kardashian, que vai lidando com o caso nota após nota, em um controle de danos que envolve base de fãs, mercado de influência e muito dinheiro. Já a “internet” em geral ferve em campanhas que querem cancelar a marca e até queimar (literalmente) os produtos.
Inaceitável
Então, uma empresa bilionária, que trabalha nos extremos da criação artística, lança não um, mas dois ensaios com referências a abuso infantil e pedofilia, de forma sutil ou descarada, pede desculpas, reconhece alguns “erros” e segue em frente? Não é bem assim. A seleta clientela deve tomar consciência sobre o significado da compra e endosso da filosofia da marca e até mesmo a Justiça dos países onde o grupo atua deve abrir o olho e descobrir a real cadeia de comando que permitiu tais experimentos. Sem trocadilho, a sociedade não pode deixar que esta moda pegue.
PS. Há muito mais na internet sobre referências ocultas nos ensaios, ampliadas para outras figuras ligadas à Balenciaga e suas influências. O Twitter está cheio de teorias e a comprovação dos fatos exige cuidado.
Internacionais
A Saga de Sage: uma história cruel sobre a interferência do Estado nas famílias americanas
Publicado
2 anos atráson
30 de agosto de 2022Por
Da RedaçãoUma adolescente retirada da família com anuência da escola e diversos órgãos federais americanos, tudo em nome da ideologia de gênero
Nota do editor: a história que publicamos aqui foi divulgada por Jordan Peterson em agosto de 2022 e faz parte do fórum Parents with Inconvenient Truths about Trans (PITT), lista que reúne famílias que trocam informações e sofrem na pele os problemas da ideologia de gênero nos Estados Unidos. Termos específicos da cultura americana foram substituídos na tradução para o português, para uma melhor clareza.
A saga de Sage
Esta é a história de uma menina de 15 anos, Sage Lily. A autora, sua mãe adotiva – que também é sua avó -, quer que o mundo saiba o que está acontecendo com crianças identificadas como trans vulneráveis como sua filha. Quando recebemos sua história, imediatamente a colocamos em contato com pessoas em nossa rede que poderiam ajudá-la e obter visibilidade de sua história com um público mais amplo. Estes fatos estão acontecendo agora; tire um tempo para ler esta história.
Eu sou a avó de uma menina de 15 anos, Sage Lily. Adotei Sage quando ela tinha apenas 2 anos de idade. Sage e eu moramos na Virgínia com meu marido.
Sage começou a passar por confusão de gênero na 8ª série. Até então, ela era uma aluna nota 10 que gostava de tocar piano e escrever poesia. Em sua pequena escola, como Sage me informou, todas as meninas eram bi, trans ou lésbicas. Em algum momento, a influência social a dominou. Ela disse aos seus amigos e professores que queria ser trans e que Sage não seria mais seu nome – ela pediu para ser chamada de “Draco” e referida como um menino. A escola aceitou e deu apoio, ação que é uma obrigação legal no estado da Virgínia.
Infelizmente, a escola não contou a mim, sua mãe legal, sobre nada disso – fiquei no escuro. Eu gostaria de ter sido informada. Se eu soubesse, esta teria sido uma história muito diferente.
Em agosto passado (2021), Sage começou a 9ª série na escola secundária local com sua identidade trans, sem que eu soubesse. Ela sofreu bullying e tornou-se extremamente vulnerável. Logo ela seria atacada na internet – um fato que eu só soube mais tarde.
Em 25 de agosto, ela fugiu de casa. Imediatamente notifiquei o xerife local. Seu caso rapidamente se agravou e o FBI e o US Marshall se envolveram. Sage foi vítima de tráfico sexual e levada da Virgínia para Washington e depois transportada para Maryland. O FBI e os delegados a encontraram em um quarto trancada na casa do criminoso às 22h do dia 2 de setembro. Eles me ligaram para me avisar e para me informar que eu poderia buscá-la na manhã seguinte para trazê-la para casa na Virgínia. Disseram-me que ela precisava passar a noite em um centro de detenção, pois estava sendo tratada no hospital, e precisava de um kit de estupro completo. Eu estava nervosa, como você pode imaginar, e perturbada por não ter permissão para vê-la imediatamente.
Cheguei ao centro de detenção bem cedo na manhã seguinte. No entanto, uma vez lá, recebi notícias surpreendentes e devastadoras – Sage estava sendo representada por um advogado de menores e não teria permissão para voltar para a Virgínia conosco, e eu não teria permissão para vê-la até que uma audiência no tribunal ocorresse. E, além disso, meu marido e eu seríamos investigados por “abuso” porque a chamávamos de “Sage” e não de “Draco”, e usávamos pronomes femininos em referência a ela, em vez de ele/dele.
Acusações de abuso foram feitas contra mim e meu marido e Sage foi colocada na UNIDADE PARA MENINOS do Lar Infantil – onde ela foi novamente abusada. Depois disso, ela foi colocada em uma sala privada. Novamente, não fui avisada de que Sage (com corpo feminino) foi colocada em uma unidade masculina. Então agora minha filha traumatizada havia sido sequestrada, traficada sexualmente e depois abusada sexualmente novamente enquanto estava sob os cuidados do Estado, em vez de retornar ao seu lar amoroso para se refazer. Em vez dos cuidados com o trauma que Sage precisava desesperadamente quando foi resgatada, ela foi manipulada e nossa família foi tratada injustamente. Em vez de obter a ajuda que ela merecia e precisava desesperadamente, ela estava fadada a experimentar ainda mais dor e sofrimento.
Após uma investigação do Serviço Social de Maryland e da Virginia, as acusações de abuso foram consideradas infundadas. No entanto, Sage ainda não tinha permissão para voltar para casa. Em vez disso, ela foi colocada no centro do palco para promover uma agenda política e de gênero para um defensor público de Maryland, claramente sem conhecimento do trauma causado pela exploração sexual de uma criança.
Uma típica jovem de 14 anos é emocionalmente imatura e luta com muitos problemas. Sage tinha problemas adicionais além dessas preocupações normais, pois havia sofrido um trauma grave antes dos dois anos de idade. Agora, com esse novo trauma de ser traficada sexualmente, ela estava ainda mais vulnerável. Apesar dos programas residenciais terapêuticos na Virgínia que estavam dispostos e aptos a aceitá-la, o defensor público de Maryland disse que Sage não poderia ir por causa da identificação trans. E o juiz do tribunal juvenil de Maryland concordou!
Em 8 de novembro de 2021, o juiz de Maryland finalmente liberou Sage para uma instituição na Virgínia. As autoridades recorreram logo no dia seguinte (indo contra a lei interestadual de custódia) e o estado de Maryland continuou a manter a custódia da minha filha, esperando colocar Sage em um lar adotivo em Maryland. Por quê? Porque eu a chamei de Sage, seu nome legal, e não de Draco. Neste caso, foi simplesmente porque meu marido e eu esquecemos – porque certamente, desesperados para ter nosso filha de volta, teríamos feito qualquer coisa, inclusive usar o nome Draco. Agora, nossa criança abusada, vítima de um crime federal de tráfico sexual, estava sendo enviada para um lar adotivo por causa da ideologia de gênero. Não há como interpretar que isso era do melhor interesse do meu filho.
Para piorar as coisas, um dia, em 12 de novembro, Sage não voltou ao abrigo infantil depois da escola. Ela tinha fugido novamente. A polícia, o Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas (NCMEC) e o FBI foram notificados.
Nesse ponto eu só podia esperar e rezar para que Sage não estivesse de volta nas mãos dos predadores. Eu rezei para que ela ainda estivesse viva. Todos deveriam estar procurando por ela. Em vez disso, o recurso de Maryland permaneceu ativo e os advogados se concentraram em usá-la para estabelecer jurisprudência para indivíduos transgêneros (esse advogado chegou a aconselhar minha filha que ela pretendia entrar com um recurso e, se isso falhasse, iria para a Suprema Corte !). Essa era a principal intenção do advogado de Maryland – e isso deveria ser realizado com o risco da saúde mental de minha filha e agora de sua vida.
Para meu horror, o delegado de Maryland descobriu que Sage havia sido enviada de Maryland para Dallas, Texas. Em 24 de janeiro de 2022, o Texas Marshal, pela graça de Deus, a encontrou em uma sala trancada onde, mais uma vez, ela havia sido abusada por um predador. Ele a usou para pornografia, vendeu seu corpo por dinheiro, a deixou com fome, espancou-a e a drogou. Foi um verdadeiro milagre que ela foi encontrada. Tantas crianças nunca são encontradas. Mas, sua exploração nunca teria acontecido se não fosse a intervenção do estado de Maryland.
Agora Sage está em uma instalação terapêutica residencial pelos próximos 1 ou 2 anos, dependendo de quão bem ela responde ao programa. Ela vai lutar com essas consequências para o resto de sua vida. Ela tem apenas 15 anos. Ela passou seu aniversário de 15 anos, 20 de outubro, em Maryland – e eu nem tive permissão para visitá-la. Chorei o dia todo naquele dia.
Eu quero compartilhar sua história com qualquer um e todos que vão ouvir. Eu sou apenas uma pequena voz para milhares dessas crianças que nossa sociedade está colocando em perigo ao aprovar leis que lhes dão mais direitos do que os pais que estão lá para protegê-las. Essas novas leis estão colocando crianças vulneráveis como a minha em perigo. Essas crianças não são capazes de tomar as decisões com as quais têm poder, e os adultos estão intervindo para explorá-las, enquanto seus pais foram relegados à margem. O cérebro dessas crianças não está totalmente desenvolvido até os 25 anos! Estamos permitindo que essas crianças, escolas e instalações médicas mantenham legalmente informações em segredo dos pais. Isso é muito real e muito assustador. Eu deveria saber.
Precisamos nos tornar uma voz ativa e alertar as pessoas que a vida de seus filhos está em jogo – literalmente. Há predadores doentes por aí observando e esperando por essas crianças confusas. Nossa sociedade os está desviando ao permitir que essas leis sejam aprovadas. É uma questão muito real que merece muito mais atenção. Acha que isso não pode acontecer com você? Pode. Ajude compartilhando a história de Sage.
Os destaques são nossos. Link para a postagem original, em inglês, aqui: The Saga of Sage.
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Ernesto Araújo é convidado para explicar apoio brasileiro ao Plano de Paz de Trump
Publicado
5 anos atráson
11 de fevereiro de 2020Conforme divulgado pelo site de notícias do Senado Federal, a Comissão de Relações Exteriores (CRE) aprovou na quinta-feira passada (6) um convite para que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, preste informações sobre a posição brasileira em relação ao plano de paz apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o conflito entre Israel e Palestina. A data da audiência pública ainda não foi definida.
Depois de estreitar os laços da Coreia do Norte com o Ocidente, algo antes nem sonhado por Barack Obama, o democrata que inclusive foi agraciado com Nobel da Paz, agora Donald Trump quer dar um rumo para um conflito que se estende desde a fundação do estado de Israel. O plano divulgado pelo governo norte-americano no dia 28 de janeiro prevê o reconhecimento de Israel e Palestina como estados soberanos.
De acordo com o plano, Jerusalém permaneceria indivisível como capital israelense, enquanto o povoado de Abu Dis abrigaria a capital do Estado Palestino. Lideranças palestinas criticaram a proposta, considerando que ela favorece os interesses de Israel. Ainda, estabelece a soberania israelense sobre boa parte do vale do rio Jordão, a oeste da fronteira com a Jordânia. Este território engloba partes da Cisjordânia, região de maioria palestina que é reivindicada como parte do Estado palestino. Trump anunciou o plano na Casa Branca ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que historicamente defende a anexação do Vale do Jordão por Israel (imagem).
No seu pronunciamento, o presidente norte-americano apontou que será uma solução realista para os dois Estados, sendo que, assim, nenhum palestino ou israelense “será retirado de suas casas”. A proposta também inclui um investimento comercial de US$ 50 bilhões, que geraria, segundo Trump, 1 milhão de empregos para os palestinos nos próximos dez anos.
No entanto, a proposta não está sendo vista pelos mesmos olhos do lado palestino. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, criticou e recusou nesta terça-feira, 11, perante o Conselho de Segurança da ONU, o plano de paz para israelenses e palestinos proposto pelos Estados Unidos. Na sua avaliação, o plano não proporciona soberania ao povo palestino.
O apoio brasileiro foi imediato. É notório o estreitamento dos laços do presidente Jair Bolsonaro com EUA e Israel. O autor do requerimento de convite para o ministro Ernesto Araújo é o senador Esperidião Amin (PP-SC). Ele destacou que, um dia após a apresentação do plano, o Itamaraty divulgou uma nota de apoio à proposta de Donald Trump. “Trata-se de iniciativa valiosa que, com a boa-vontade de todos os envolvidos, permite vislumbrar a esperança de uma paz sólida para israelenses e palestinos, árabes e judeus, e para toda a região”, destaca a nota do Ministério das Relações Exteriores brasileiro.
Para Esperidião Amin, a postura do Itamaraty representa uma “mudança de posição”: “O Brasil tem uma história de relação tanto com Israel quanto com a Palestina. Nenhum país do mundo tem uma relação tão diplomática, tão intensa. Chamar o ministro para explicar essa mudança da posição do Brasil não significa contestar. Mas ignorar isso, creio que seria uma irresponsabilidade”.
O presidente da CRE, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), afirmou que o ministro Ernesto Araújo se dispõe a participar da audiência pública.
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