As mais recentes pequisas de opinião demonstram crescimento de Fernando Haddad, poste de Lula na eleição presidencial. No último levantamento do Ibope, o petista aparece em segundo lugar, com 19% das intenções de voto, abrindo vantagem considerável sobre Ciro Gomes, que agora ocupa a terceira posição. Os eleitores de Jair Bolsonaro não acreditam. Para eles, a ascensão de Haddad está sendo fabricada. Aparentemente, só os números do capitão são válidos.
Na última semana, Bolsonaro usou as redes sociais para falar com seus apoiadores e militantes. Com aparência frágil e usando sonda nasogástrica, gravou um pronunciamento direto do leito hospitalar. Enquanto a bile saia pelo tubo no nariz, as teorias conspiratórias vinham pela boca. Sem apresentar prova alguma, fez uma acusação contra o modelo de votação digital. Segundo o candidato, os petistas seriam beneficiados com votos artificialmente implantados nas urnas eletrônicas.
É sabido que o sistema eleitoral brasileiro não conta com a confiança da população. Em boa medida, as próprias instituições responsáveis por ele ajudam a gerar dúvidas nos brasileiros. O Projeto de Lei que visava adotar o voto impresso traria transparência ao que hoje é tomado como obscuro. Aprovado no Congresso Nacional, acabou sendo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, que parece querer obrigar todos a confiarem nas urnas eletrônicas. Os ministros ignoram que não há democracia sem confiança, por mais que eles asseverem que tudo é seguro. O povo acha que não é. Isso deveria bastar para se introduzir a modificação.
Dito isso, não há nada que consubstancie a acusação de que as eleições brasileiras são fraudadas em favor da esquerda. Assim fosse, esse campo ideológico não teria saído amplamente derrotado em 2016, durante o pleito municipal. Na época, o PT perdeu mais da metade das prefeituras que administrava, caindo de 630 para 256. Ninguém questionou o resultado. O mesmo pode ser dito do referendo do desarmamento em 2005. Foi a primeira votação totalmente eletrônica. A tese defendida pela esquerda, que advogava pela proibição da compra de armas, não prosperou.
Além de tudo, a acusação de Bolsonaro não tem lógica. Não faria o menor sentido a Justiça declarar a inelegibilidade de Lula e ao mesmo tempo sustentar um sistema que o beneficiaria.
Bolsonaro aceitou participar de uma eleição com uso de urnas eletrônicas. São as regras do jogo. Ao dizer que elas manipulam o resultado, ele coloca em cheque a Justiça que o diplomará caso seja eleito. Passa a valer a ideia de que o único resultado aceitável é a sua vitória. É um raciocínio autoritário e que não se difere em nada da tática retórica de Lula.
O ex-presidente criou uma narrativa de que é um perseguido. As decisões da 13° vara de Curitiba e do TRF-4, que são os responsáveis pelos julgamentos da Lava Jato, teriam o firme propósito de impedir que ele participasse da disputa. O PT chegou até mesmo a anunciar que uma eleição sem Lula seria fraudulenta. Ainda assim, quando o TSE decidiu que ele não poderia se candidatar, o partido aceitou trocar o titular de sua chapa. Em outras palavras: se submeteu às regras do jogo que condena.
Tanto Bolsonaro quando Lula exercitam a retórica conspiracionista contra o “mecanismo” como forma de estimular suas respectivas militâncias. Enquanto ambos lucram com aquilo que não passa de retórica política, quem sai prejudicada é a própria democracia brasileira, que é desmoralizada por dois de seus mais importantes líderes políticos.
Na convenção do PSL, a advogada Janaína Paschoal apelou ao público para que não se convertesse no polo invertido do PT. Foi em vão. O lulopetistas e bolsonaristas resolveram se unir dando abraço insano na irresponsabilidade. Ambos passaram a acreditar apenas nas narrativas que podem beneficiá-los. A realidade objetiva foi pelo cano nasogástrico, junto com a bile e os sucos intestinais.
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